Apagar-se
Estar na internet é, de certa forma, se ver frente a frente com o espelho. Nem sempre nos sentimos bem com a própria imagem, mas nunca podemos dizer que não estamos realmente ali.
Nos últimos dias tenho trabalhado em um exercício que consiste em me apagar. Deletei minhas contas no Facebook, WhatsApp, Instagram, Twitter… Apaguei todos os meus textos do Medium e não senti nada. Um instante só e eles já não estavam lá. Por fim, diminuí meu tempo no smartphone e deixei de fazer várias coisas que eu gostava para tentar, pelo menos parcialmente, diminuir minha presença na internet.
Sei que no final isso é uma ilusão. Você pode sumir da vida das pessoas, mas não tem o direito de sair da web. Uma vez que você entrega os seus dados e informações, eles já não são seus, ainda que apontem para você o tempo todo. Lembro que, quando eu estava fazendo Doutorado, tinha um colega que pesquisava o que acontecia com os restos digitais das pessoas; principalmente depois que elas morrem, mas, às vezes, também por opção, quando elas ainda estão vivas, quando não querem mais ser notadas. Na época eu pensava: “quem iria querer sumir, não ser percebido? Ninguém realmente quer isso. As pessoas querem aparecer, se mostrar, não se apagar”. Era isso o que eu pensava. E aqui estou.
Marcos Ramon, Brasília
Esse é um texto que escrevi faz pouco tempo e que reflete um pouco do meu estado de espírito nas últimas semanas. Como cada vez menos gente tem interesse em ler textos em blogs (e eu insisto em escrevê-los, apesar da inutilidade evidente do ato), vou começar a encaminhar os meus textos e atualizações do podcast por e-mail pra você.
Enfim, por hoje é só. Fique bem.
Marcos Ramon
Brasília, 06/11/2018
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