Ter tido a oportunidade de ir para uma escola, uma boa escola, foi algo que transformou a minha vida. O que eu mais gostava não era de estudar sozinho, nem da sensação de aprender coisas novas. Eu gostava de ouvir os professores. Gostava de ficar sabendo das histórias que eles contavam e que se entrelaçavam com o assunto que eles queriam ensinar. Me interessava observar os jeitos, os olhares, a forma de existir.
No ensino médio, tive uma professora de redação que anotou em um texto meu que eu escrevia bem e que eu devia escrever sempre. Ela disse que um bom texto traz alegria às pessoas e que a gente precisa disso, tentar a felicidade. Dias depois, em uma aula especialmente conturbada, a voz dela travou e ela teve uma crise de choro. A turma ficou finalmente em silêncio e ela, olhando pra baixo, guardou as coisas e saiu. Nunca mais a vi.
Essas duas coisas mudaram a minha vida pra sempre. A anotação no texto e a evidência do quão doloroso pode ser esse trabalho de professor. Por isso, nunca quis ser professor, não podia querer. Mas aqui estou; hoje, com quase 20 vinte anos de experiência em docência.
Quando digo aos meus estudantes que não gosto de dar aula, eles se assustam. Comentam que eu pareço me importar com o que eu faço. Mas é exatamente isso. Respeito a minha profissão, valorizo tudo o que ela me permitiu ter e fazer. Por isso, me importo com o que faço e tento, na minha prática, participar com o melhor de mim. Mas é difícil dizer que se gosta de uma profissão em que muitas vezes sinto o desprezo do olhar dos outros, o desrespeito, a falta de empatia e arrogância de quem vê os professores como um estorvo.
Vou trabalhar muitos anos ainda, até o último dia que eu tiver de ir. Na minha profissão, se aposentar cedo é um privilégio para poucos. Já tive momentos em que saí de sala no meio da aula (como a minha professora de redação), já tive crise de choro, já senti angústia por ter que ir ao trabalho, já tive medo de violência física dentro de sala, já senti esse desprezo que comentei antes.
Hoje é dia dos professores e todo ano sempre paro para pensar sobre isso: o que tornaria esse dia feliz? Talvez a certeza de que não vou precisar mais sentir nada disso. Infelizmente, não parece provável.
Mas como ainda tenho muitos anos pela frente, só me resta resistir. Com utopia, esperança, autoengano? Não sei exatamente como, nem com qual ferramenta, mas reinventando o que for preciso. A minha profissão importa, os estudantes importam. O desafio é fazer isso sem sacrificar a si mesmo, "tentando a felicidade". Por isso, continuo.
Professor, parabéns 👏🏻👏🏻👏🏻 Você enche minha alma de textos versáteis: fazem pensar, analisar, entrar na máquina do tempo e sondar pelos teus prismas os acontecimentos. É uma maneira diferente de estabelecer conexões e isso é gratificante. Ter um professor que se interessa pelo estudante, pelo ensino e por si mesmo é inestimável. "Não tem preço!"